quinta-feira, dezembro 15, 2011

O FUTEBOL


A história do futebol é uma triste
viagem do prazer ao dever. Ao mesmo
tempo em que o esporte se tornou
indústria, foi desterrando a beleza que
nasce da alegria de jogar só pelo
prazer de jogar. Neste mundo do fim de
século, o futebol profissional condena
o que é inútil, e é inútil o que não é
rentável. Ninguém ganha nada com essa
loucura que faz com que o homem seja
menino por um momento, jogando como o
menino que brinca com o balão de gás e
como o gato brinca com o novelo de lã:
bailarino que dança com uma bola leve
como o balão que sobe ao ar e o novelo
que roda, jogando sem saber que joga,
sem motivo, sem relógio e sem juiz.
O jogo se transformou em
espetáculo, com poucos protagonistas e
muitos espectadores, futebol para
olhar, e o espetáculo se transformou
num dos negócios mais lucrativos do
mundo, que não é organizado para ser
jogado, mas para impedir que se jogue.
A tecnocracia do esporte profissional
foi impondo um futebol de pura
velocidade e muita força, que renuncia
à alegria, atrofia a fantasia e proíbe
a ousadia.
Por sorte ainda aparece nos campos,
embora muito de vez em quando, algum
atrevido que sai do roteiro e comete o
disparate de driblar o time adversário
inteirinho, além do juiz e do público
das arquibancadas, pelo puro prazer do
corpo que se lança na proibida aventura 
da liberdade.
(Eduardo Galeano)