sábado, julho 01, 2006

Epitáfio ou Brasil X França

Estranho como nos sentimos diante do que nunca vimos antes, principalmente quando somos surpreendidos. É assim que eu, e provavelmente muitos brasileiros, se sentem quanto à eliminação do Brasil contra a França. Claro que já vimos a seleção ser eliminada de uma copa do mundo, porém, não com um comportamento tão estranho quanto o do time de Parreira no jogo.
Não jogamos, e afirmar isto é muito diferente do que dizer que jogamos mal. A apatia , a falta de interesse, ou a falta de garra me chocou. Claro que a seleção tinha problemas desde o início. A falta de condicionamento físico de alguns jogadores era patente, e a insistência em jogar com dois centro-avantes mal preparados fisicamente, a falta de vontade de Roberto Carlos que incrivelmente, no momento do gol da França, estava abaixado consertando o meião, deixando T. Henri sem marcação, o baixo rendimento de Kaká, Gaúcho, Juninho e Cafu, a aposta errada na concepção da seleção que privilegiou jogadores sem as menores possibilidades de serem condicionados durante a Copa. Os problemas eram muitos.
Em depoimento, o jogador Roger do Corinthians, coloca que um dos fatores para o péssimo futebol apresentado por Ronaldo gaúcho, está no excesso de viagens para cumprir os contratos publicitários, durante as finais da temporada européia. Este foi um grupo com as maiores estrelas da atualidade sem ter se tornado um time de verdade, com preocupação coletiva e solidária. A vaidade escancarada pode ser percebida nas entrevistas dadas pelos jogadores, onde se percebe que só falam dos feitos pessoais e de quão bem preparados estariam para atuar.
Bem, acredito que as atuações ruins, que foram todas menos a contra o Japão, deve ter surpreendido o técnico também. As características dos treinamentos , sem coletivos, ou treinos "rachões" em metade do campo, na certa não poderiam tornar aquele bando em time, tanto que, Parreira diz que um dos fatores para a falta de entrosamento tería sido os poucos jogos amistosos ou o pouco tempo de treinamento. A falta de coragem do técnico em mudar os laterais foi umas das maiores demonstrações de conservadorismo já visto, onde uma abstração tática deveria se impor à uma realidade onde os jogadores não davam respostas.
Poderia ficar aqui destilando todas as minhas frustrações com a campanha, mas levaria horas escrevendo, análises onde se dão notas para jogadores, pode se obter nos grandes meios de comunicação. Mas há algo de podre no reino, e é possível que nunca saibamos , ou saberemos em parte por jogadores que cumpriram seu papel(poucos) ,e que não vão ficar por muito tempo carregando a responsabilidade pelo pior jogo da seleção brasileira já visto.
Teorias da conspiração irão pulular, a maioria que não poderemos levar em consideração, no entanto, não descarto a possibilidade de falta de lisura no torneio, principalmente em um torneio que envolve bilhões, onde a pressão externa é gigantesca, onde a mercantilização, o futebol-negócio, supera muitas das vezes, o desejo de superar adversários no campo. Como explicar tamanha falta de concentração dos jogadores brasileiros, tamanho desinteresse pela vitória, onde o "time" de jogadores experientes se abateu tanto com o gol francês? Escutei outro dia de alguém, que haveria um revezamento entre a Nike e a Adidas nas conquistas das copas.
Prefiro pensar na má qualidade do futebol apresentado pela seleção brasileira, pois é mais confortável pensar que em um jogo, seja ele qualquer, há sempre perdedores e vencedores, e que não se pode perder sempre, mesmo que sejam os argentinos que completam agora um jejum de 20 anos sem ganhar uma copa do mundo.Fazendo uma analogia com uma brincadeira feita por um jornalista-narrador com "Los Hermanos" do Prata: foi a melhor partida do Brasil, a partida para o aeroporto, "estamos juntos de volta prá casa".